Curso de Introdução ao Open Dialogue e Práticas Dialógicas
Como construir um diálogo comum para as experiências que ainda não contêm palavras? Como praticar habilidades mais dialógicas? Como desenvolver uma escuta mais qualificada e responsiva? Por que algumas perguntas geram mais diálogo do que outras?
As abordagens colaborativas e dialógicas com famílias que convivem e enfrentam problemas de saúde mental vêm ganhando espaço no cenário dos serviços de saúde mental de muitos países da Europa, Oceânia e América do Norte ao longo das últimas décadas.
Este conjunto de práticas tem contribuído para importantes transformações na cultura e nos serviços de saúde mental através de práticas que propõem uma postura reflexiva e colaborativa, desenvolvendo relações mais horizontais e incentivando redes de apoio/solidariedade. Esta perspectiva preza a linguagem como uma atividade conjunta na construção de caminhos alternativos ao sofrimento.
A formação foi moldada pela vasta experiência clínica dos seus formadores, assim como em visitas de estudo à Lapónia Finlandesa e Norte da Noruega.Por meio de uma aprendizagem colaborativa, este curso visa proporcionar reflexões sobre uma prática terapêutica mais dialógica na saúde mental e providenciar uma base sólida para a facilitação de Reuniões Terapêuticas em formato Open Dialogue.O programa proporciona um espaço reflexivo que ajuda os participantes a incorporar e interiorizar uma filosofia e atitude “Open Dialogue”.
O que é o Open Dialogue?
O Open Dialogue (Diálogo Aberto) é um sistema de tratamento e organização de serviços de saúde mental que surgiu na Lapónia Finlandesa no início dos anos 80, numa época em que a prevalência de perturbações psiquiátricas graves na região, particularmente no espectro da psicose, era bastante elevada. Baseado no sistema “needs adapted” (adaptado às necessidades do paciente) de Yrjo Alanen, os serviços de todo a região foram reformulados, criando um sistema de resposta à crise psiquiátrica baseado em abordagens familiares, dialógicas e em rede. Estas abordagens foram alvo de investigação sistemática nos últimos 30 anos, permitindo observar resultados promissores no que diz respeito à redução de sintomas, diminuição de dias de internamento, redução na utilização de medicação anti-psicótica e redução nos subsídios de invalidez e desemprego.
O sistema Open Dialogue tem suscitado interesse internacional sendo actualmente alvo de um estudo controlado de larga escla no NHS Inglês (ODDESSI). Recentemente, foi lançado uma plataforma de colaboração internacional (HOPEnDialogue), com sede em Roma, e que pretende instituir um sistema de cooperação dos vários projectos Open Dialogue internacionais para garantir fidelidade na intervenção e nos resultados. É através do desenvolvimento de uma “cultura de diálogo”, que acaba por conseguir-se uma redistribuição de poder e uma diluição de hierarquias, permitindo que os recursos internos dos pacientes e famílias sejam mobilizados de forma a encontrar soluções.
Estas soluções são normalmente encontradas, na chamada “reunião de tratamento”, onde todas as decisões e planos de contingência são efectuados, na presença de todos os envolvidos e com transparência. A cada pedido de ajuda é alocada uma equipa de 2 ou 3 terapeutas que intervém de forma intensa e à medida das necessidades, com o paciente, rede social e familiar.
Objectivos e estrutura
O programa terá lugar em Lisboa e no Porto e consistirá em 16 dias ao longo de 2020 e 2021, divididos em 4 módulos com a duração de 5 dias (3 dias completos + 2 meios dias).
Os dias de formação terão uma mistura de apresentações teóricas e exercícios práticos, discussão no grande grupo e role plays, onde os formandos ganharão experiência na pratica dos elementos chave do trabalho dialógico. A teoria e pratica serão integrados de uma
forma que permite que a aprendizagem seja conceptual e experiencial ao mesmo tempo. Serão também dadas leituras para complementar os dias de formação. Alguns dos tópicos cobertos serão:
- Os 7 princípios do Open Dialogue e os 12 princípios da prática dialógica
- Dialogismo/monologismo
- Equipas Reflexivas
- Responsividade da equipe terapêutica: conceitos de Responding x Reflecting
- Facilitação de Reunões Terapêuticas com a rede social
- Questões Circulares e Antecipatórias
- A escuta e a sintonia na prática clínica
- Trabalho sobre a família de origem
- Trabalhar em situações de crise
- O terapeuta dialógico e a aliança terapêutica
- Trabalhar com pessoas em situação de psicose
- Inclusão de pares em reuniões dialógicas
- Reflexões sobre a prática clínica: as práticas dialógicas em contextos de atendimentos/supervisão
- Lidar com medos e receios de reuniões dialógicas com a rede alargada
- Trabalhar com o risco
- “Doença” x normalidade e a ideia de “cura”
FORMADORES E ASSISTENTES
Jaakko Seikkula é professor emérito de psicoterapia na Universidade de Jyväskylä, na Finlândia.De 1981 a 1998, ele foi psicólogo-chefe no hospital Keropudas, em Tornio, na Finlândia, e foi fundamental no desenvolvimento da abordagem do Diálogo Aberto. Nos últimos 30 anos, esteve envolvido no desenvolvimento de novas práticas familiares e nas redes sociais para os problemas psiquiátricos mais graves, como a psicose e a depressão grave.
Desempenhou um papel de liderança na investigação do Diálogo Aberto e abordagens relacionadas, tendo publicado vários artigos sobre os resultados desses estudos, que mostram a eficácia de diálogos abertos e outras práticas dialógicas.
Terapeuta Ocupacional, Mestre em Saúde Mental e Terapeuta de Família, vive e trabalha em São Paulo, Brasil.No Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo, coordenou de 1984 a 2017 atividades docentes no Curso de Especialização em Terapia Ocupacional em Saúde Mental, na Residência Multiprofissional em Saúde Mental e no PROESQ – Programa de Esquizofrenia da UNIFESP.
No Instituto Familiae-São Paulo, coordenou o Módulo “Família e Transtorno Mental” no Curso de Formação de Terapia de Família e Casal, entre 2008 e 2013.
No Instituto NOOS-São Paulo desde 2017, integra a equipe e coordena ações de clínica e formação em Abordagens Dialógicas na Saúde Mental.
Em fevereiro de 2020 conclui a Certificação de Trainer in Dialogic Practice in Open Dialogue pelo Institute for Dialogic Practice de New York.
Certificou-se em Dialogic Practice in Open Dialogue pelo Institute for Dialogic practice de New York em março de 2019.
Integra o Corpo Docente do Programa “Dialogical approaches in couple and family therapy”, em Asunción, Paraguay, organizado por Dialogic Partners com Enfoque Niñez.
É cofundadora da ABRE – Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Esquizofrenia, onde desenvolve ações de acolhimento e apoio, educação e defesa de direitos em saúde mental.
Desde 2007 integra a comissão de acompanhamento da Associação ENCONTRAR+SE, no Porto, em Portugal, onde coordenou o desenvolvimento inicial do Grupo “Vozes de Esperança”, formado por pessoas com experiência vivida de superação nas perturbações mentais, que desde 2015 ministram palestras educativas sobre o tema com o objectivo de lutar contra o estigma associado aos problemas de saúde mental.
João G. Pereira é Diretor Clínico da Fundação Romão de Sousa (Casa de Alba) e Coordenador do projecto piloto “Open Dialogue Portugal – Norte Alentejano”. Doutorado em Psicologia do Aconselhamento e Psicoterapia pela Middlesex University, após vários anos no Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido, onde desenvolveu e investigou programas terapêuticos.João G. Pereira é membro “Chartered” da British Psychological Society (BPS), Psicoterapeuta Acreditado pelo United Kingdom Council for Psychotherapy (UKCP) e Certificado pela European Association for Psychotherapy (EAP). Está interessado em compreender os processos envolvidos no desenvolvimento e manutenção de relações terapêuticas e na interacção entre a psicanálise, filosofia e neurociência afectiva.
Membro do Conselho Consultivo da Rede Internacional de Comunidades Terapêuticas Democráticas, membro internacional do Staff dos Workshops Living Learning Experience (Royal College of Psychiatrists) e membro do Conselho Editorial do Therapeutic Communities Journal da Emerald.
Desde 2015, João G. Pereira tem investigado o sistema Open Dialogue, tendo realizado visitas de trabalho à Lapónia Finlandesa, norte da Noruega e Nova York. Recentemente, garantiu financiamento para o 1º projeto piloto de Diálogo Aberto em Portugal.
João G. Pereira é autor e editor de várias publicações em saúde mental. Ele co-editou e foi co-autorou os livros recentemente publicados “Schizophrenia and Common Sense” da Springer-Nature e “The Neurobiology-Psychotherapy-Pharmacology Intervention Triangle” da Vernon Press.
Médica psiquiatra, no Centro Hospitalar do Entre Douro e Vouga, vive no Porto.Coordenadora do Programa de Intervenção em Primeiro Episódio Psicótico, no Departamento de Saúde Mental do CHEDV.
A frequentar desde maio 2018 o Open Dialogue – 3 year training programme pelo Open Dialogue – UK, em Londres.Co-fundadora e tesoureira da MENTEMOVIMENTO – associação pró-saúde mental do Entre Douro e Vouga – que tem sido parceira no desenvolvimento do Projeto Habitus com a estruturação de uma unidade socio-ocupacional que tem como objetivo a facilitação e a mediação entre a pessoa com problemas de saúde mental, o seu processo terapêutico, as estruturas sociais locais, educativas, de saúde e de emprego.
Psicóloga, Psicoterapeuta Sistêmica de Casal/Família e Pedagoga, atualmente mora em Portugal e é Mestranda em Psicologia da Saúde e do Bem-estar pela Universidade Católica de Lisboa. Possui Diplomado Internacional em Práticas Generativas e participa de grupos de estudos e supervisões em Abordagens Colaborativas e Dialógicas e, na saúde mental, na proposta do Open Dialogue (Diálogos Abertos).Integra, como associada efetiva, a equipe clínica do Instituto NOOS-São Paulo e é membro titular da Associação Brasileira de Terapeutas de Família. É também pós-graduada em Linguagem/Comunicação e Gestão de Recursos Humanos. Possui experiência nas áreas de atendimento clínico a indivíduos, casais e famílias, assim como nas áreas de Educação e de Comunicação.
Luís Madeira, 37 anos, desenvolve a sua carreira em quatro vertentes síncronas. Médico Psiquiatra, licenciado em Medicina pela Universidade de Lisboa em 2008, trabalha no Centro Hospitalar Lisboa Norte (CHLN) e Hospital CUF Infante Santo. É titular de grau de mestrado em Filosofia pela Universidade de Central Lancashire e de Doutoramento na área da Filosofia da Psiquiatria. É Professor Auxiliar de Ética e Deontologia médica e de Psiquiatria na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. É ainda, Psicoterapeuta pela Sociedade Portuguesa de Psicoterapia Centrada no Cliente e Abordagem Centrada na Pessoa. Apresentou mais de uma centena de comunicações nacionais e internacionais e tem em seu nome 20 publicações.
Peter Rober, PhD, é psicólogo clínico, terapeuta familiar e formador em terapia familiar no “Context-Center” para terapia conjugal e familiar (Centro Psiquiátrico Universitário, da Universidade KU Leuven, Bélgica). Professor Catedrático do Instituto de Estudos de Família e Sexualidade (faculdade de medicina da Universidade K.U. Leuven, Bélgica), onde ensina terapia familiar. As suas áreas de interesse e investigação centram-se na aliança em terapia familiar (incluindo orientação para feedback) e no processo de terapia, incluindo especialmente o uso do Self do terapeuta e o diálogo interno do terapeuta.Peter Rober publicou vários artigos em revistas internacionais de terapia familiar. Desde 1992, apresenta workshops internacionais sobre terapia familiar com crianças e adolescentes. Em 2017, publicou o livro “In Therapy Together: Family therapy as a dialogue” (Palgrave MacMillan).
CONVIDADOS
Licenciado em Medicina pela Universidade do Porto. Mestre em Psiquiatria e Saúde Mental pela Faculdade de Medicina do Porto. Especialista em Psiquiatria pela Ordem dos Médicos.
Foi Director da Clínica de Psiquiatria e Saúde Mental do Centro Hospitalar São João (Porto) entre 2007 e 2017, integrou a Comissão Técnica de Acompanhamento da Reforma da Saúde Mental do Ministério da Saúde entre 2010 e 2017 e actualmente coordena a Unidade de Psiquiatria e Saúde Mental do Hospital Escola da Universidade Fernando Pessoa.
Leccionou as disciplinas de Saúde Mental (Mestrados em Epidemiologia e em Saúde Pública, Departamento de Epidemiologia Clínica, Medicina Preditiva e Saúde Pública, Faculdade de Medicina da Universidade do Porto), Psicofarmacologia (Mestrado em Psicologia, Especialização em Psicologia Clínica e da Saúde, Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica Portuguesa/Porto) e Intervenção Sistémica (Licenciatura em Serviço Social, Instituto Superior de Serviço Social do Porto).
Membro da Sociedade Portuguesa de Terapia Familiar, terapeuta, formador e supervisor. Prefaciou a edição portuguesa de Famílias e Como (Sobre)viver Com Elas de John Cleese & Robin Skinner, ed. Afrontamento, 1990.Membro co-fundador da Sociedade Portuguesa de Psicodrama, terapeuta, formador e supervisor, e da Federation of European Psychodrama Training Organizations Federation of European Psychodra (FEPTO). Director da revista Psicodrama, ed. Afrontamento. Entre 2001 e 2009 foi membro eleito do Board of Directors da International Association for Group Psychotherapy and Group Processes (IAGP). Co-editor do Proceedings Book of IAGP 4th Regional Mediterranean and Atlantic Congress (2011). Publicou Tudo o que sempre quis saber sobre Psicodrama mas nunca ousou perguntar a Woody Allen (Afrontamento, 2018).
Autor de mais de setenta artigos em publicações científicas nacionais e internacionais, nomeadamente sobre perturbações do comportamento alimentar e perturbação obsessivo-compulsiva, e dos capítulos “Psicopatologia” em Acção Social na área da Saúde Mental (ed. Fátima Alves), Universidade Aberta, 2001 e “Psiquiatria em Hospital Geral: Que Futuro?” em Saúde Mental – Modo de Usar (ed. António Roma Torres), Centro Hospitalar São João, 2013.
Kari Valtanen is a child and adolescent psychiatrist and family therapist. He has been working with the Open Dialogue team in Western Lapland since 2002 in both clinical work and training. He has run Open Dialogue workshops and training both in Finland and internationally since 2005.
Anni Haase is a psychologist, psychotherapist and certified Open Dialogue trainer. Currently she works at Keropudas in Tornio, Finland. Anni works with families, social networks and individuals in the spirit of a need-adapted approach. She leads trainings for peer workers with her colleagues and supervises. Previously Anni worked as an occupational psychologist in Rovaniemi and Tornio. Anni completed psychology teacher’s pedagogical studies (2005), and specialized in family counseling (2007) and sensorimotor trauma therapy (2010). Anni is very interested in combining body-oriented approaches to therapeutic work. In therapy processes and in network meetings Anni is focused on the embodiment of experience and pays close attention to subtle sensations and transformations in emotions, thoughts, movements and perceptions in those engaged in the meetings.
PÚBLICO ALVO
- Profissionais do SNS ou organizações não governamentais
- Cuidadores informais e/ou pessoas com experiência prévia de perturbação mental
INFORMAÇÕES GERAIS
Duração
4 módulos com o total de 128 horas.
Preço
600 euros
Datas e Locais
22 a 26 janeiro 2020 – Lisboa
13 a 17 maio 2020 – Porto
23 a 27 setembro 2020 – Lisboa
17 a 20 fevereiro 2021 – Porto
– Complementado com 2 dias de supervisão de casos (datas a ser definidas ao longo do curso) e leituras entre os módulos.
Horários
Quartas-feiras – das 15h30 às 19h30 (com intervalo de meia hora)
Quintas-feiras, sextas-feiras e sábados – das 9h00 às 13h00 e das 14h00 às 18h00
Domingos – das 9h00 às 13h00
PAGAMENTO DE INSCRIÇÕES
As inscrições devem ser pagas através de transferência bancária, para:
Beneficiário: Fundação Romão de Sousa
IBAN (Novo Banco): PT50 0007 0000 0047 7950 0412 3
POLÍTICA DE CANCELAMENTO: Em caso de cancelamento de inscrição, efetuamos reembolso de 50% do valor pago caso o pedido seja feito até 8 dias antes do início do curso. Após esse período, não é efectuado reembolso.
CONTACTOS
T: +351 268 035 675
E: info@fundacaords.org
—INSCRIÇÕES ENCERRADAS